sábado, 26 de julho de 2008

O Atirador...

Ele chega ao local marcado, observa o local com a minúcia de um cirurgião, coloca o ponto em seu ouvido.

-Na escuta, montando equipamento, tempo para finalização como combinado.

-Copiado.

Era sempre a mesma voz fria que escutava em cada serviço...

Ele ajusta o equipamento, observa sua mira, o alvo esta no local. Sempre fora criticado pelo tempo que levava para aprontar o equipamento, fazer os devidos ajustes, aprontar tudo, mas sempre tinha uma resposta para isso: - arrume outro que faça o serviço da mesma forma que eu.

Nunca tinha ninguém como ele nesse tipo de execução, ele sabia disso e se aproveitava, podia ser arrogante o quanto fosse, ele era a pessoa que podia realizar a encomenda com a devida precisão.

-Alvo na mira, pronto para executar o tiro no momento indicado.

-Aguarde...

Não sabia fazer outra coisa da vida, não que não tive-se tentado, tentará muitas vezes, mas só assim era feliz. Sentia satisfação no que fazia, era algo ”frio” para quem não entendia do assunto, outros, não gostavam do serviço, diziam que era desvalorizado, de menor importância...

-Então execute uma encomenda sem esse tipo de serviço.

Essa era a resposta que sempre tinha, odiada, por quem escutava isso dele, mas verdadeira em cada silaba que saia de sua boca...

-Aguarde a ordem para o tiro...

-No aguardo.

Faltava pouco, era só esperar, a ordem, o “click” do tiro, alguns segundos e tudo estaria terminado, era desmontar o equipamento, acender o cigarro, seguir para o próximo local e executar tudo novamente...

-Corta! Tudo OK, todos vocês estão de parabéns...

Todos haviam realizado suas tomadas perfeitamente, os tiros dos câmeras tinham sido precisos, cada movimento captado, não seria preciso refazer a cena...

Niaranjan do O`

quarta-feira, 9 de julho de 2008

tedio...

Ele acorda, vai ao banheiro, toma um banho e se veste, tudo na mais perfeita harmonia, desce para tomar seu café perfeito, servido pela sua esposa perfeita do seu casamento perfeito, deixa seus filhos perfeitos na escola perfeita, é um profissional de sucesso, tem sua vida como padrão de referência para muitas pessoas, menos para ele mesmo, sentia um vazio enorme dentro de si, um vazio eterno, que nunca era saciado, nunca conseguiu entender o que causava esse vazio, apenas seguia a vida seqüencial que lhe era imposta: casa, transito, trabalho, transito, casa.até o momento em que lhe batem na traseira do carro...

Ele acorda, a dor de cabeça da ressaca bate em sua cabeça como um martelo em uma bigorna, e noite havia sido intensa, como quase todas as suas noites, muita bebida, sexo, uma noite promiscua mesmo, qualquer um diria que essa seria uma vida miserável, mas ele sentia em casa fibra de seu corpo a vida fluindo, e sempre queria mais. Come um punhado de amendoins do tipo japonês que sobraram em uma tigela, não tinha tempo para preparar nenhuma comida e se tinha algo pra prepara na dispensa, pega o capacete e sai na moto, não tem o melhor emprego do mundo, mas é feliz com o que faz... A ressaca desta vez foi muito perturbadora, tanto que nem viu o carro perfeito que acabara de bater...

Ele sai do carro que já não é mais perfeito, vê uma pessoa saindo de cima de seu carro perfeito, não sabe como reagir em uma situação fora de sua vida perfeita, ele observa as regras serem quebradas, seu dia , até então um exemplo de perfeição, foi brutalmente interrompido, e se sente estranho, uma sensação indescritível, mas não uma sensação ruim, ele entende que existem mais coisas que uma vida perfeita e regrada, e são, exatamente com essas imperfeições, que nos sentimos vivos...

Niaranjan